10 ANOS

FAZ 10 ANOS HOJE. FORAM ANOS DE DOR E DESESPERO. FORAM ANOS EM QUE A HUMANIDADE SOFREU. FORAM ANOS PARA MORRER. FORAM ANOS PARA APRENDER A LUTAR. FORAM 10 ANOS PARA ENTENDER O FIM. FORAM 10 ANOS ATÉ ENTENDER QUE HÁ ESPERANÇA. FORAM ANOS PARA VALORIZAR OS BRAVOS E RESGATAR NOSSA FORÇA COMO ESPÉCIE. AGORA TENTAMOS RECONSTRUIR O POUCO QUE SOBROU, MAS PARA ISSO, NUNCA DEVEMOS ESQUECER NOSSO PASSADO E MUITO MENOS OS DIAS QUE NOS TROUXERAM AO PRESENTE MOMENTO. NÃO PODEMOS ESQUECER NENHUMA BATALHA, NENHUMA CONQUISTA OU DERROTA. NÃO PODEMOS ESQUECER NENHUM HERÓI, SEJA VIVO OU MORTO. NÃO VAMOS BURLAR A HISTÓRIA, NEM DEIXAR DE CONTÁ-LA. VAMOS DESCOBRIR QUE A VIDA CONTINUA E QUE TODOS DEVEMOS FICAR DE PÉ. VAMOS COMEÇAR DENOVO, E AGRADECER ÀQUELES QUE NOS LIBERTARAM PARA ISSO...

Essas são as memórias do fim. As memórias dos mortos. As memórias de um mundo que acabou. As palavras abaixo sobreviveram aos seus narradores, algumas contam a trajetória de Hector, outras, daqueles que cruzaram seu caminho. Ele jurou protegê-las com sua vida e agora elas estão aqui... Para toda a eternidade.

INSTRUÇÕES

O livro começa no post "CAOS", o primeiro post do blog, ou seja, ele deve ser lido dos posts mais antigos para os mais atuais. Os capítulos estão numerados para facilitar a navegação.

PRÓLOGO

Quando estava tudo perdido eu corri.
No começo eu corri com passos largos e firmes. Corri mais rápido do que já havia corrido em toda minha vida. No começo eu fugia da morte, então corri desesperadamente rápido. Enquanto corria, meus olhos encheram de lágrimas. O suor escorria em minha testa e pingava em grandes gotas, mas eram lágrimas em meus olhos, e não suor.

Eu corria e chorava, então percebi que fugia de mim mesmo. Eu fugia do fracasso. Eu fugia da perda. Eu fugia das memórias daqueles que morreram por mim. Então eu corri mais! Corri até meus pés incharem e pesarem feito chumbo. Corri até meus nervos enroscarem e torcerem. Corri até sentir minha perna dormir.

O ácido tomava minhas veias e me rasgava por dentro, mas aquela dor não chegava em minha alma. A dor da derrota me dominava por completo. Eu tentei correr até o fim do mundo. Senti meu peito ficar pesado, senti espasmos em meu corpo, senti meu coração pular até a boca, mas corri. Corri rangendo os dentes e bufando em agonia. Corri, corri e corri...

Poucas foram as vezes que lembrei dos infectados, que me perseguiam como cães raivosos. Cada vez que tentei olhar para trás, pude ver mais e mais deles. Eram como uma onda de ódio espumando e gritando atrás de mim.

Corri até minhas pernas ficarem bambas, corri até perder os sentido, então, por alguns segundos, achei que tudo havia terminado. Não havia chão, não havia suor, talvez ainda houvesse lágrimas, pois não conseguia mais ver o caminho a minha frente. Por alguns segundos, poucos segundos, pensei estar voando e imaginei que seria a morte. Mas ao bater minha cara no chão e sentir o calor dilacerando minha pele, percebi que morrer não seria tão fácil assim.

Demorei a recobrar meus sentidos e quando me virei para trás, a onda selvagem me alcançara. Minha boca tinha gosto de terra, minha cabeça girava e latejava, onde antes os ferimentos queimavam, agora eu sentia o sangue gelar e escorrer sobre meus olhos que só podiam ver vultos vermelhos por todos os lados.

Por alguns momentos pensei que seria tarde demais, já estava cercado. Minhas armas ficaram jogadas no caminho sem munição, então instintivamente, puxei minha espada e comecei a cortar. Cortei e estoquei para mantê-los afastados, cortei mãos, cabeças, e barrigas, de onde escorriam as entranhas. Tive alguns segundos de loucura, tomado pelo calor da matança. Cortei e gritei, não sentia mais dor alguma, mas continuava chorando. Cortei e estoquei, mas a onda me empurrou para trás e perdi o espaço para brandir minha espada. Foi quando senti a primeira mordida.

Tentei me livrar, mas uma cabeça apertava suas mandíbulas sobre a proteção do meu braço. Os dentes tinham muita força, mas não para atravessar o couro. Minha mão agora estava imóvel, espremida pela massa de corpos que me rodeava. Voltei a sentir minhas pernas, elas queimavam. Voltei a sentir dor. O ferimento em minha cabeça latejou. Senti meus olhos fecharem e tentei abri-los novamente, mas estavam cheios de sangue e eu não podia ver nada.
Continuei me debatendo freneticamente, e assim consegui escapar dos primeiros puxões e agarrões. Meus braços não tinham mais forças para lutar e algumas mãos geladas já apertavam meu pescoço. Foi assim que comecei a ceder.

Relaxei minhas pernas e lembrei do meu fracasso. Parei de me debater e pensei nos homens que levei até a morte. Parei de gritar e chorar e então desejei morrer. Ainda sentia o punho da espada, mas deixei ela escorregar de minha mão. E depois que ouvi o primeiro tiro passar ao lado de minha cabeça, zunindo e arrancando um pedaço de minha orelha, não senti mais nada.

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