10 ANOS

FAZ 10 ANOS HOJE. FORAM ANOS DE DOR E DESESPERO. FORAM ANOS EM QUE A HUMANIDADE SOFREU. FORAM ANOS PARA MORRER. FORAM ANOS PARA APRENDER A LUTAR. FORAM 10 ANOS PARA ENTENDER O FIM. FORAM 10 ANOS ATÉ ENTENDER QUE HÁ ESPERANÇA. FORAM ANOS PARA VALORIZAR OS BRAVOS E RESGATAR NOSSA FORÇA COMO ESPÉCIE. AGORA TENTAMOS RECONSTRUIR O POUCO QUE SOBROU, MAS PARA ISSO, NUNCA DEVEMOS ESQUECER NOSSO PASSADO E MUITO MENOS OS DIAS QUE NOS TROUXERAM AO PRESENTE MOMENTO. NÃO PODEMOS ESQUECER NENHUMA BATALHA, NENHUMA CONQUISTA OU DERROTA. NÃO PODEMOS ESQUECER NENHUM HERÓI, SEJA VIVO OU MORTO. NÃO VAMOS BURLAR A HISTÓRIA, NEM DEIXAR DE CONTÁ-LA. VAMOS DESCOBRIR QUE A VIDA CONTINUA E QUE TODOS DEVEMOS FICAR DE PÉ. VAMOS COMEÇAR DENOVO, E AGRADECER ÀQUELES QUE NOS LIBERTARAM PARA ISSO...

Essas são as memórias do fim. As memórias dos mortos. As memórias de um mundo que acabou. As palavras abaixo sobreviveram aos seus narradores, algumas contam a trajetória de Hector, outras, daqueles que cruzaram seu caminho. Ele jurou protegê-las com sua vida e agora elas estão aqui... Para toda a eternidade.

INSTRUÇÕES

O livro começa no post "CAOS", o primeiro post do blog, ou seja, ele deve ser lido dos posts mais antigos para os mais atuais. Os capítulos estão numerados para facilitar a navegação.

CAPÍTULO 01

O professor de violino não demorou muito em minha primeira aula. Unhas roídas e dedos curtos, segundo ele, eu conseguiria uma melodia melhor com um martelo. O professor de violino é careca, gordo e corcunda, usa óculos e tem um péssimo hálito, então eu penso que essa é sua maneira de descontar em alguém suas frustrações. Afinal, porque eu quero tanto aprender violino aos 25 anos de idade? Que diferença isso fará na minha vida agora? Não sei. Decidi aprender. Decidi isso numa tarde de sábado, quinze dias atrás.

Dedos curtos e unhas roídas. Ok. Mas minhas mãos também são muito precisas. Isso, meu professor de violino ainda não sabe. Em minha primeira aula, eu não fiz nada. Apenas observei enquanto ele afinava o instrumento e falava de sua habilidade nata que nunca o levou a lugar algum, e nunca mais levará. Eu ouvia passivamente, mas em meu íntimo já crescia a vontade de superá-lo. Dois meses talvez. Dois meses e estarei tocando melhor que ele. Talvez três ou quarto, mas mesmo assim...

Nada disso realmente importa.
Acho que não importa mais.

No final da aula, volto para casa. Não é minha casa. É apenas um quarto com banheiro que serve de abrigo. Afinal, essa não é a minha cidade. Não conheço ninguém aqui, e não gosto de ninguém que eu conheço. É um quarto com banheiro dentro de um apartamento no décimo segundo andar de um edifício residencial. Aqui mora um casal, nove cachorros, três gatos ou mais, dois papagaios e em algum lugar deve haver algum outro bicho que esqueci de citar. Apenas volto para casa para dormir. Subo todos os doze andares pela escada. Penso em minha vida a cada degrau. É uma boa terapia, pelo menos me deixa mais cansado, assim, tenho desculpas para não ser produtivo. Apenas volto para casa para dormir, mas nunca fui muito bom em dormir.

Sentado na minha cama reteso as cordas de meu arco. Empunho o violino e começo a tocar. Nunca ouvi nada mais detestável. Ele agora está afinado, mas só consigo produzir ruídos e o som desagradável do atrito entre as cordas. Talvez seja culpa dos meus dedos curtos e minhas unhas roídas, mas a verdade é que isso nunca me impediu de desenhar, pintar ou escrever, mas nos últimos quinze dias, minhas mãos não conseguem mais produzir beleza. Não conseguem produzir mais nada. Talvez antes, mas não agora...

Nada disso realmente importa.
Não importa mais.

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